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O Investidor Irracional
Dinheiro & Liberdade #009
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No mundo dos investimentos, muitas vezes ouvimos falar sobre a necessidade de tomar decisões racionais e bem fundamentadas.
No entanto, a realidade é que nossas escolhas financeiras são frequentemente influenciadas por emoções e vieses cognitivos que podem nos levar a comportamentos irracionais.
Ao atender dezenas de investidores diariamente, eu posso ver na prática como muitas pessoas podem ter um ponto de vista tão distinto sobre um mesmo tema, a depender do gatilho emocional que os impacta naquele momento.
Na edição de hoje, vamos explorar o fascinante campo da economia comportamental e entender como a racionalidade limitada afeta o mercado financeiro. Também vamos discutir estratégias para nos proteger dessas armadilhas comportamentais. Vamos começar!
Conceitos de Economia Comportamental
O que é Economia Comportamental?
A economia comportamental é um campo de estudo que combina psicologia com a teoria econômica para entender como as pessoas realmente tomam decisões econômicas.
Diferente da economia tradicional, que assume que os indivíduos são sempre racionais e buscam maximizar sua utilidade, a economia comportamental reconhece que as pessoas são frequentemente irracionais e influenciadas por fatores psicológicos.
Seus avanços se devem muito ao trabalho de 2 ganhadores do prêmio Nobel de Economia: Daniel Kahneman e Richard Thaler.

Kahneman é considerado o “pai da economia comportamental”. Vencedor do prêmio em 2002, o mais curioso é que ele nem economista é, mas sim psicólogo.
E foram justamente os estudos baseados na união entre psicologia e economia que apresentaram a Kahneman e outros pesquisadores resultados até então dissoantes da teoria econômica clássica.
Kahneman é o autor de “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar“ (link) e veio a falecer em 27 de Março deste ano.
Richard Thaler, por sua vez, é economista e ganhador do Nobel de Economia de 2017 e autor de Nudge: Como tomar melhores decisões (link).
Agora, o mais interessante é como, com os avanços da litaratura sobre o assunto, passamos a entender um pouco melhor sobre as ações financeiras tantos dos indivíduos em nossa volta como de nós mesmos.
Eu comecei a aprofundar meu conhecimento sobre a economia comportamental quando estudei para a certificação CFP® (Certified Financial Planner - link). Ali aprendi sobre os principais gatilhos emocionais e como esses afetam os investidores.
Após isso, é natural trazer a teoria para o dia a dia e com isso enxergar mais facilmente onde pode haver tomada de decisão irracional.
Racionalidade Limitada e seus Fundamentos
A ideia de racionalidade limitada sugere que, embora as pessoas queiram tomar decisões racionais, sua capacidade de fazer isso é limitada pela quantidade de informação que possuem, pelo tempo disponível para tomar decisões e pela complexidade da situação. Como resultado, as pessoas frequentemente utilizam atalhos mentais, conhecidos como heurísticas, para tomar decisões rápidas, mas nem sempre corretas.
Vieses Cognitivos e Emocionais
Os vieses são desvios sistemáticos do julgamento racional. Alguns dos vieses mais comuns que afetam as decisões financeiras incluem:
Viés de confirmação: A tendência de procurar e interpretar informações de maneira que confirme nossas crenças pré-existentes.
Viés de ancoragem: A tendência de se concentrar demais na primeira informação recebida (a âncora) ao tomar decisões subsequentes.
Viés de aversão à perda: A tendência de sentir a dor da perda mais intensamente do que o prazer do ganho, levando a comportamentos conservadores ou de risco excessivo.
Exemplos de Irracionalidade no Mercado Financeiro
Euforia do Mercado e Bolhas Especulativas
Um exemplo clássico de irracionalidade no mercado financeiro é a formação de bolhas especulativas. Durante períodos de euforia, os investidores muitas vezes compram ativos com base na expectativa de que seus preços continuarão subindo, independentemente dos fundamentos econômicos.
Exemplo: A bolha das empresas pontocom no final dos anos 1990, quando os preços das ações de tecnologia subiram para níveis insustentáveis antes de um colapso dramático.
Outro exemplo clássico é o da bolha das Tulipas. As pessoas compravam tulipas por valores equivalentes a anos de salário, acreditando que poderiam vendê-los a preços ainda mais altos. A esteira de altas no preços das tulipas parecia não ter fim e a irracionalidade passa a tomar conta dos investidores. A bolha estourou e muitos deles perderam fortunas.
Pânico e Venda em Massa
Em contraste com a euforia, o pânico pode levar à venda em massa de ativos, muitas vezes em resposta a notícias negativas ou percepções de risco. Esse comportamento pode causar quedas bruscas nos preços dos ativos, exacerbando ainda mais o pânico.
Exemplo: A crise financeira de 2008, onde o colapso do Lehman Brothers levou a uma venda generalizada no mercado, resultando em uma queda significativa nos preços das ações globalmente.
Pessoalmente, eu vivi de maneira muito intensa a ansiedade dos investidores quando, em Fevereiro e Março de 2020 a Pandemia do Covid expandia globalmente. Foram semanas trabalhando da hora em que acordava até a hora de domir na comunicação direta com os clientes.
Felizmente em grande parte o racional de restabelecer a calma e não tomar decisões impulsivas nos possibilitou enxergar uma boa recuperação dos ativos de renda variável ainda naquele ano. Alguns investidores puderam tomar um pouco mais de risco e compraram ativos a níveis mais baixos de preços.
Aversão à Perda
A aversão à perda é um viés poderoso que pode levar os investidores a evitar a realização de perdas, mesmo quando isso seria a decisão racional. Por exemplo, um investidor pode segurar uma ação em queda, esperando que ela recupere seu valor, em vez de vendê-la e reinvestir em um ativo mais promissor.
Exemplo: Investidores que mantiveram ações de empresas em falência, como a Enron, na esperança de recuperação, acabaram perdendo todo o seu investimento.
Muitas vezes a aversão à perda vem somada ao gatilho da ancoragem. Os investidores se apegam ao preço que pagaram por uma ação, sendo que, ao longo do tempo, essa é uma informação irrelevante para o mercado e não deve ser utilizada para uma nova tomada de decisão sobre aquele ativo.
O que importa não é o preço que você pagou, mas sim qual o valor justo para aquele ativo contra o preço de mercado.
Estratégias para Proteger-se da Irracionalidade
Educação Financeira e Autoconsciência
Uma das melhores maneiras de se proteger contra a irracionalidade é aumentar sua educação financeira. Entender os princípios básicos de finanças e economia comportamental pode ajudar a reconhecer e evitar vieses comuns.
Dicas Práticas:
Leia livros e artigos sobre economia comportamental e finanças pessoais.
Esteja ciente dos seus próprios vieses e trabalhe para mitigá-los.
Você pode se comprometer a escrever sobre uma tomada de decisão importante antes de realizá-la. Colocar algo “no papel” te traz a serenidade necessária para tomar a decisão de maneira mais fundamentada.

Eu mantenho uma página no NOTION para fundamentar investimentos.
Diversificação de Investimentos
Diversificar sua carteira de investimentos é uma estratégia eficaz para reduzir riscos e proteger-se contra decisões irracionais. Ao espalhar seus investimentos em diferentes classes de ativos, setores e regiões geográficas, você pode diminuir o impacto negativo de uma má decisão ou evento específico.
Dicas Práticas:
A estratégia de Asset Allocation é aquela onde diferentes classes de ativos são utilizadas para formar uma carteira.
Invista em uma combinação de ações, títulos, imóveis (ou fundos imobiliários) e outros ativos.
Considere fundos de índice ou ETFs para obter diversificação de forma eficiente e de baixo custo.
Diversificação Internacional também dilui seu risco de várias formas, como escrevi na edição #003 da newsletter.
Respeite seu perfil de risco
A maior parte dos erros em investimentos financeiros que podem ser atribuidos aos vieses cognitivos estão atrelados a ativos mais agressivos. Um gatilho emocional dificilmente vai impactar relevantemente na sua decisão de compra de um CDB, e caso impacte, o prejuízo é “controlado”.
Agora, quando você despeja um dinheiro relevante da sua carteira em um ativo porque todo mundo está falando (efeito manada) ou porque é sobre ele que você tem mais informação e intimidade (viés de disponibilidade) as consequências disso podem ser realmente desastrosas.
Você só estará investindo de maneira ajustada ao seu perfil de risco quando você pode por a cabeça no travesseiro à noite e dormir sem preocupações. Decisões financeiras que te tiram o sono são falhas consertáveis, que devem ser revisadas.
Dicas Práticas:
Considere trabalhar com um consultor financeiro que possa oferecer uma perspectiva objetiva e fundamentada, trabalhando a 4 mãos para alinhar suas decisões de investimentos às suas condições de liquidez, objetivos financeiros e perfil de risco.
Na Expertise Investimentos, nós atendemos investidores a partir de 300 mil reais a estabelecerem sua estratégia de investimentos, gestão de risco e planejamento patrimonial. Você pode marcar uma sessão estratégica conosco aqui.
Conclusão
A economia comportamental nos mostra que, embora desejemos ser investidores racionais, muitas vezes somos influenciados por emoções e vieses cognitivos que podem levar a decisões financeiras subótimas.
No entanto, ao entender esses fatores e adotar estratégias para mitigá-los, podemos melhorar significativamente nossa performance no mercado financeiro.
Espero que a edição de hoje possa ter “acendido uma luz” aí sobre sua tomada de decisões financeiras!
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Se você gostou de alguma das edições até aqui, não deixe de encaminhar o e-mail ou esse link para quem possa interessar.
Até o próximo sábado!
André Pauletto
👀 O que vi e ouvi de melhor essa semana 🎧
🎵 Heart - Stairway to Heaven - tributo à Led Zeppelin (ouvindo enquanto escrevo a News) - link
📖 Dan Koe - The Power of Walking (youtube) - link
Já faz um tempo que leio sobre o poder da caminhada, não só para a saúde como para a mente. Grandes ideias nascem de caminhadas. O Dan Koe fala sobre os benefícios nesse vídeo. Vale conferir! (Em inglês)