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O que ninguém te conta sobre o custo de oportunidade nos investimentos
Dinheiro & Liberdade #026
Toda escolha de investimento vem acompanhada de uma renúncia.
Seja escolher investir em ações de uma empresa ao invés de um fundo imobiliário, ou deixar o dinheiro parado na conta, cada decisão financeira envolve uma troca.
E é aqui que entra o conceito fundamental de Custo de Oportunidade.
Será que você está levando isso em consideração quando toma suas decisões de investimento?
Hoje, vamos explorar o impacto invisível do custo de oportunidade em suas finanças e como ele pode ser decisivo pra você.
Custo de oportunidade é, basicamente, o valor do que você deixa de ganhar ao escolher uma alternativa em detrimento de outra.
Seus recursos são limitados. Se você decide investir em uma aplicação de baixo risco com retorno modesto, o custo de oportunidade pode ser o que você poderia ter ganhado em um investimento mais arriscado com maior potencial de lucro.
Mass… o contrário também é verdadeiro. Você pode “deixar na mesa” aquela rentabilidade mais previsível de um investimento mais seguro ao tentar acessar alternativas mais agressivas.
Aliás, foi justamente esse o insight que me veio à cabeça enquanto analisava um investimento em uma ação que eu havia feito há algum tempo e surpreendentemente explodiu em valor em coisa de 1-2 meses. Conto sobre isso mais à frente no texto.
Veja alguns exemplos de como o custo de oportunidade influencia na tomada de decisão:
Se você escolhe manter uma reserva financeira na poupança ao invés de em um fundo de renda fixa mais rentável, o custo de oportunidade é a diferença entre o rendimento de ambas as opções.
Ao não diversificar seu portfólio com ativos mais arriscados, o custo de oportunidade pode ser o retorno potencial que outros ativos mais voláteis trariam.
Quando você compra um bem de alto valor ao invés de investir, o custo de oportunidade (ao menos no sentido financeiro), é a diferença entre o resultado monetário que você teria ao considerar o principal mais os juros da aplicação contra o valor (potencialmente depreciado) do bem adquirido. Eu falo sobre isso no meu texto sobre “O Verdadeiro Custo do Seu Carro”.
Como eu havia dito: escolhas geram renúncias.
Ainda assim, entender sobre o seu real custo de oportunidade não deve te gerar o receio de um arrependimento ou te travar com relação a decisões financeiras.
Muito pelo contrário. Você entenderá claramente os benefícios e malefícios de cada decisão.
E uma decisão consciente é uma decisão mais inteligente.
Como Evitar Deixar Dinheiro na Mesa: Dicas Práticas
Aqui estão algumas dicas para ajudar você a tomar decisões mais informadas:
Avalie as Alternativas: Sempre que for investir, compare com outras opções. Pergunte-se: "Qual é o potencial de retorno? O que estou perdendo ao escolher isso ao invés daquilo?"
Utilize benchmarks de mercado: Para ser objetivo na sua análise, você pode utilizar um índice de referência do mercado para presumir o retorno de uma classe de ativos. Por exemplo, o retorno da taxa Selic (ou mesmo o CDI) é amplamente utilizado para pensar no custo de oportunidade de um dinheiro que poderia estar alocado com segurança e liquidez.
Diversifique Suas Escolhas: Ao diversificar, você reduz o custo de oportunidade de deixar uma classe de ativos fora do seu portfólio. Tenha um mix de ativos com diferentes perfis de risco e retorno.
Pense no Longo Prazo: Algumas oportunidades podem ter um retorno menor agora, mas no longo prazo podem se mostrar muito mais lucrativas.
Revise Seu Portfólio Regularmente: O mercado muda, e com ele mudam os retornos potenciais das diferentes classes de ativos. Revisar suas escolhas e o desempenho delas pode evitar que você deixe de lado grandes oportunidades.
Agora, nada disso importa se você não entender também como o tempo interfere em todo esse cálculo de rentabilidade.
O Valor do Dinheiro no Tempo
Uma das bases do conceito de custo de oportunidade é o valor do dinheiro no tempo.
Isso se refere ao princípio de que um real hoje vale mais do que um real no futuro, devido ao seu potencial de gerar retorno ao longo do tempo e também ao simples fato de que, via de regra, nossa moeda perde valor por si mesma ao longo do tempo devido à inflação.
Quando falamos de custo de oportunidade, essa ideia se torna ainda mais relevante. Se você tem dinheiro em mãos e escolhe não investi-lo, está abrindo mão não apenas dos retornos que ele poderia gerar ao longo do tempo, mas está também aceitando a desvalorização relativa do seu capital conforme os preços dos bens sobem.
Quem nunca parou para pensar naquelas histórias de sucesso que a gente escuta na mesa do bar daquela pessoa que comprou imóvel por X e vendeu por 2X? Uma tacada certeira, o investidor colocou um montante naquele ativo e depois de algum tempo vendeu por um tanto a mais.
Bem, é válido pensar que foi um investimento de sucesso no sentido de que não houve perda nominal. Isto é, não levando nada mais em consideração e diminuindo o valor de compra do valor de venda, houve lucro.
Isso não é desprezível, uma vez que há muitos ativos em que, com maior risco associado, é possível que haja prejuízo em valor nominal.
Porém, não ser desprezível não quer dizer que seja o ideal. Longe disso.
Quando partimos para uma análise mais aprofundada, descobrimos muitos detalhes importantes para a análise. Para o exemplo da conversa de bar e investimento em imóveis:
Quando o imóvel foi comprado? Quais outros custos estavam embutidos na compra?
Quando o imóvel foi efetivamente vendido? Qual foi o custo pela intermediação da venda? Quanto foi pago de imposto pelo ganho de capital?
Entre a compra e a venda, qual o perfil de fluxo de caixa desse imóvel? Foi utilizado pelo proprietário 100% do tempo? Ou ele servia como investimento para renda também?
Que nível de renda gerou nesse ínterim? Houve vacância em algum momento? Houve custos com manutenção, condomínio, impostos e afins?
Percebe como cada um desses detalhes pode mudar drasticamente o resultado da análise?
E quando você tem uma análise assim apropriada, você pode utilizá-la contrapondo a um custo de oportunidade, que te trará um resultado fidedigno ao valor do dinheiro no tempo.
Um imóvel que dobrou de valor (100% de valorização, de R$500 mil para R$1 milhão) gera interesse em uma análise superficial.
Porém, se o investimento:
foi feito ao longo de 10 anos;
foi tributado em 15% sobre o ganho de capital (alíquota mínima) e
teve um custo de 5% pela intermediação na venda;
Já vemos que o valor nominal de venda do bem é reduzido a um valor líquido muito menor.
Do valor bruto de venda de R$1 milhão, descontamos 50 mil reais de custo pela intermediação.
Do ganho de capital de R$450 mil reais, reduzimos a alíquota de imposto de renda de 15%, resultando em R$382.500,00 de ganho líquido. Agora enxergamos não mais 100% de valorização bruta, mas sim 76,5% de rentabilidade líquida.
Mas, pera aí..
Esse investimentos foi realizado ao longo de 10 anos.
Vamos agora descobrir a rentabilidade ao ano?
É claro que você não vai dividir 76,5% por 10 anos. Essa seria uma aproximação equivocada, pois não estamos falando de juros simples.
A rentabilidade líquida ao ano neste caso deu 5,85%.
Mas não para por aí. E o tal valor do dinheiro no tempo?
Os 882 mil e 500 reais da venda líquida hoje não valem o que eles valiam 10 anos atrás.

Variação do IPCA de 30/09/2014 a 01/10/2024
E sendo mais preciso, os 882 mil reais líquidos hoje, são basicamente os mesmo 500 mil reais de 10 anos atrás quando compensamos nosso cálculo pela inflação do período, como você pode ver no gráfico acima.
Estamos apenas fazendo aproximações, para fins educativos. Considerando essa janela de tempo, os IPCA registrou um aumento dos preços da cesta média de produtos do consumidor em um percentual praticamente igual à valorização do nosso exemplo do imóvel.
Isso nos permite avaliar essa decisão sob a ótica do custo de oportunidade.
Numa decisão especificamente de investimento, a inflação não é uma boa referência para o custo de oportunidade.

IPCA x CDI na janela de 10 anos.
Veja que a referência para investimentos de renda fixa e conservadores no Brasil (CDI) teria entregado quase o dobro do retorno da inflação.
É justo mencionar que esse seria um valor bruto, ainda a ser tributado. Mas o resultado líquido continuaria muito melhor que o retorno da inflação ou mesmo do que o retorno através do imóvel.
E olha que neste exemplo nem colocamos várias variáveis vindas de custos que poderiam impactar negativamente o investimento imobiliário.
O Custo de Oportunidade na Prática
Investidores frequentemente negligenciam essa avaliação ao tomarem decisões.
E aqui não quero pegar no pé dos imóveis não. Foi apenas um exemplo.
Os mesmos conceitos e apego aos detalhes podem ser levados em conta na aquisição de qualquer ativo de maior valor ou no aporte em algum investimento.
Mesmo ao manter uma carteira de investimentos de longo prazo, há momentos cruciais em que não considerar o custo de oportunidade pode impactar fortemente seus resultados.
Você pode estar mais confortável com a segurança de um ativo, mas será que ele está trazendo o melhor retorno? Ou, no caso contrário, será que optar por uma estratégia arriscada não está fazendo você perder oportunidades em opções mais estáveis e com boa rentabilidade a longo prazo?
Eu citei o exemplo de um investimento meu em uma ação que cresceu muito recentemente.
Essa empresa foi a AMBIPAR. O ticker (código) da ação é AMBP3.

Mais de 1500% de alta nos últimos 4 meses.
Agora, se a ação subiu tanto assim, que lição eu tenho para tirar sobre custo de oportunidade nessa história?
Bem, primeiro não se esqueça: quanto uma ação subiu no mercado nunca vai contar 100% da história de um investimento individual, pessoal.
Após ler alguns releases da empresa sobre sua intenção em desalavancar o negócio, diminuindo o ritmo de aquisições no mercado e potencialmente até vendendo algumas vertentes, eu entendi aquele como um bom momento para comprar ações da empresa.
O CEO da empresa também estava comprando mais ações, e isso o mercado tende a ver isso com bons olhos.
Afinal de contas, um sócio ou investidor do negócio pode vender uma participação por um milhão de razões, seja pela perda de fundamento da empresa ou porque simplesmente quer usar o dinheiro para alguma outra coisa.
Agora, ninguém compra mais ações da empresa se não acredita no potencial dela.
Bem, de qualquer forma esses foram meus insights e a partir disso fui olhar alguns relatórios de casas de análise independentes no mercado.
(*Através da Expertise Investimentos, nosso escritório de assessoria em investimentos e patrimônio, acessamos relatórios pagos de analistas certificados para embasar as recomendações aos nossos clientes).
Com isso, eu decidi pela compra das ações no dia 17/06. Comprei alguns lotes pagando R$8,33 por uma ação que em poucos dias iniciaria um alta vertiginosa.

Porém há muitas outras informações ainda não citadas. Vamos lá:
Eu já tinha ações da Ambipar compradas há mais de 2 anos e no negativo;
Eu não mantive todas as ações ao longo dessas 4 meses. No meio do caminho vi a ação triplicar, quadruplicar, quintuplicar de valor… Eu fui realizando algumas vendas conforme entendia que aquilo poderia estar entrando numa zona de irracionalidade e também conforme a posição se tornou muito maior na minha carteira do que eu tinha em mente.
E olha que eu nem sou de vender ações. Tenho um approach muito mais de comprar e manter (Buy and Hold) do que qualquer outra coisa.
Assim, quando falamos sobre custo de oportunidade, podemos ver como ele me impactou sob duas óticas nesta história:
1 - O período anterior à alta exponencial:
Eu tive lucro com a ação da Ambipar, isto é fato. Aliás, um bom lucro. Porém, ao considerar que eu já havia comprado ações da empresa há mais de 2 anos, eu e você devemos levar em contar todo esse período investido, como no exemplo do imóvel.
Se considerarmos o período do meu investimento inicial há alguns anos até o meu aumento de posição em junho desse ano, a ação havia perdido cerca de 30% do seu valor e o custo de oportunidade de simplesmente não estar investido em uma aplicação pós-fixada no CDI me tirou outros 25% de rentabilidade aproximadamente.
Portanto houve uma defasagem muita grande em rentabilidade nestes anos, alarmada pelo custo de oportunidade com o CDI alto neste período.
2 - Há custo de oportunidade na venda também:
Conforme a ação subia sem parar, eu me peguei analisando um investimento meu com mais frequência do que de praxe. A ação subia mais de 10% ao dia em alguns momentos.
Já está precificada? O que tem por trás dessa alta tão repentina?
Você vai pensar em todas essas coisas.
O que eu sugiro é pensar no seguinte: Qual o seu nível de convicção sobre o investimento e, principalmente, quão confortável você está com o risco dessa posição na sua carteira?
No meu caso, minha convicção se reduziu não sobre a empresa, mas sim conforme o preço dela aumentava de maneira acelerada sem mudança na minha percepção de valor.
Eu paguei pouco mais de 8 reais por ação na última compra, e menos de 2 meses depois, vi a ação sendo negociada a 80, 100 reais. A melhor empresa do mundo pode ser um mau negócio, pra isso para comprá-la pelo preço errado.
Valuations e percepção de valor são quase uma arte, e não há quem crave de maneira objetiva o valor definitivo para um negócio. Você precisa de uma percepção pessoal sobre o tema, e a minha foi de que naquele nível de preços eu não estava confortável em manter a posição pois a) ela já havia multiplicado em tamanho na minha carteira e portanto o risco geral e b) eu via, através do custo de oportunidade, realocações óbvias que gostaria de fazer no meu planejamento.
Dessa forma, eu somei a isso o fato de que vinha aumentando a exposição da minha carteira a fundos imobiliários e ativos IPCA+ e resolvi desfazer toda a posição de Ambipar. Não foi uma, mas sim algumas vendas que, pouco a pouco, zeraram minha posição a um preço-médio de venda perto dos 70 reais. Eu comecei a vender acima dos 30 reais e o último lote acredito que foi perto dos 100 reais.
Hoje a ação está negociando acima dos 136 reais por ação.
E este é o mercado. Pra mim fez muito sentido todo o movimento, independente do preço pelo qual o ativo é negociado agora.
Pude aumentar minha posição em fundos imobiliários em um momento de abertura da curva de juros, com as cotas desses ativos caindo. Mas isso fica para uma próxima edição da nossa newsletter
O custo de oportunidade é invisível, mas suas consequências são bem reais.
Como investidor, você deve sempre estar atento ao que está renunciando ao tomar cada decisão.
Por isso, da próxima vez que for revisar sua carteira ou tomar uma decisão de alocação de capital, pergunte-se: Qual é o custo de oportunidade dessa escolha?
Até a próxima e obrigado pela sua leitura!
Não deixe de encaminhar esse texto pra quem possa interessar.
André Pauletto.
Indicações de Leitura:
Howard Marks → "O Mais Importante para o Investidor"
Phillip Fisher → “Ações Comuns, Lucros Extraordinários”
🤝 Como eu posso te ajudar:
Se você tem até 1 milhão de reais investidos, você pode contar com um assessor de investimentos da minha equipe e todos os especialistas da Expertise Investimentos:
Agende aqui: https://tidycal.com/andrepauletto/reuniao1-45mins-reg
Se você tem acima de R$ 1 milhão investidos, eu tenho vagas na minha própria assessoria para auxiliá-los na sua jornada de crescimento e proteção do seu patrimônio
Agende aqui: https://tidycal.com/andrepauletto/reuniao1-45mins