Bitcoin a 90 mil dólares: o que isso significa para você?

A euforia das criptomoedas: uma armadilha para investidores

Bitcoin no seu topo histórico.

Esse é o cenário-base da nossa conversa de hoje.

Se já é a máxima histórica na cotação em dólares, imagine olhando em reais, já que vemos o real também flutuando perto do seu momento mais desvalorizado perante o dólar ao longo da sua trajetória de mais de 30 anos.

Pois bem, eu facilito: 1 bitcoin vale hoje mais do que 520 mil reais.

E agora, provavelmente, você pode estar se recordando de alguns momentos na sua vida em que essa criptomoeda apareceu de alguma forma:

• Um amigo disse ter comprado;

• Outro colega disse ter vendido e ganhado dinheiro;

• Já outro colega perdeu dinheiro entrando em algum esquema de pirâmide que só se aproveitava do nome Bitcoin;

• E por aí vai…

Talvez você mesmo tenha se proposto a estudar ou até investido nesse “ativo”. Coloco aspas aqui, pois chamá-lo de ativo ainda pode dar muito debate, mas ao meu ver tanto o Bitcoin como outras criptomoedas adquiriram, sim, esse status de “ativos digitais”.

Alguns investidores mais puristas e fundamentalistas seriam contra essa ideia pelo fato de o Bitcoin não gerar renda. Mas isso é tema para outra conversa.

O fato é que o cenário acima provoca diferentes lembranças, ou até arrependimentos, em muitas pessoas.

E este mesmo cenário é o ideal para montar um nova armadilha que irá dilapidar patrimônio de pessoas gananciosas ou apenas mal informadas.

É o cenário de FOMO (fear-of-missing-out), que não nada mais é que o medo de ficar de fora de uma “oportunidade”.

Muitas pessoas se posicionam apenas com isso em mente e esquecem os fundamentos.

O livro “O Mais Importante para o Investidor” é uma das melhores obras que trazem a importância do risco para a tomada de decisão de um investidor.

Há muitas falácias sobre o risco, e não é nada fácil lidar com ele. Porém, entendê-lo em sua essência e adotar táticas para mitigá-lo são ações essenciais para a sustentabilidade de qualquer investimento.

Veja o que o autor Howard Marks cita no capitulo 6, “O mais importante é… reconhecer o risco”:

Qualquer semelhância com o momento atual?

Bem, não quero de forma alguma passar a impressão de que esta é uma recomendação anti-bitcoin (aliás, mais sobre isso na próxima edição da newsletter).

Porém é fato que o investidor comum, desavisado, apenas abre os olhos (e a carteira) para certos ativos nas épocas de bonança.

No post “A Ilusão do Lucro Rápido”, eu contei a história de um cliente que justamente quis entrar de cabeça (ou melhor dizendo, com um milhão de reais) em uma carteira que tivesse exclusivamente Bitcoin e outras criptomoedas.

Não por coincidência, era 2021, topo mais recente do Bitcoin antes desse atual.

Esse cliente não tinha nem o conhecimento, nem a convicção necessários para manter uma carteira daquela a longo prazo. Foi assessorado dentro do possível, e danos foram parcialmente contidos.

Com todo o respeito e anonimato necessários, utilizo essa história para trazer luz aos debates com outros investidores e para fazer conteúdos como este.

Tivesse ele feito a compra de maneira fundamentada e não apenas pela empolgação do mercado, talvez teria mantido os investimentos até hoje

O que é necessário para ter um investimento multiplicador na carteira.

Antes que você se martirize por não ter gasto até os últimos centavos para comprar Bitcoin no passado, me permita te confortar:

Você não estava preparado(a) pra isso.

Não consigo discordar desse post do Faria Lima Elevator:

Obviamente, toda regra tem sua exceção, mas talvez te conforte saber que a maioria dos que compraram o ativo em algum momento, não surfaram toda essa alta.

Não que isso seja algo bom. Melhor seria se os seus conhecidos e familiares tivessem ganho um bom dinheiro investindo em BTC, mas é válido você saber que o investidor médio simplesmente não tem convicção suficiente para se manter investido a longo prazo.

É por isso que sempre haverão mais pessoas de perfil convervador do que moderado, e mais moderados do que agressivos.

Carteiras agressivas e voláteis exigem mais.

Exigem não apenas capacidade financeira para investir em diversas classes de ativos - como também capacidade de tempo, ou melhor dizendo, mais prazo para maturidade dos investimentos e menor necessidade de liquidez.

Além disso, uma carteira agressiva exige aptidão ao risco. Nem todo mundo tem estômago para suportar grandes oscilações, especialmente as negativas, que colocam em xeque a sua capacidade de se manter convicto

Falo sobre o ponto ideal de limite de risco da carteira nesta edição da newsletter.

Sendo assim, o que te indico é o seguinte:

1. Mantenha sua carteira dentro do perfil de risco que te permite dormir tranquilamente.
   Investimentos devem trabalhar para você, não gerar estresse ou desestabilizar sua rotina.

2. Se deseja investir em um ativo claramente agressivo e volátil, como o Bitcoin:

• Estude seus fundamentos e tenha muito clara a razão da compra;

• Certifique-se de usar uma fatia do capital que não será necessária no curto ou médio prazo;

• Utilize seu relacionamento com um investidor experiente e, principalmente, com seu assessor de investimentos para validar a tese e compreender como o ativo pode se encaixar na carteira.

Acredito que só assim você cria o suporte necessário para manter um investimento que pode, em alguns casos, demorar anos para te render os devidos frutos.

Lembre-se de que nem sempre a melhor decisão é manter um ativo. Estamos nos preparando para evitar desinvestimentos por razões superficiais, mas, em muitos momentos, vender será a decisão mais acertada.

Controle suas teses de investimentos

Numas das primeiras edições da newsletter eu trouxe esse print de uma página do Notion que uso para documentar minhas teses de investimentos mais agressivas:

O importante é registrar:

• As razões da compra;

• Os prazos estimados;

• As condições para manter ou vender o ativo.

Aliás, vejo que cada vez mais pessoas usam o Notion, mas além disso o racional da página acima poderia ser montado em qualquer documento do Word ou algo assim. Portanto, me reponda:

Por fim, é mais do válido te recordar que você pode colher 90% dos benefícios dos investimentos financeiros com 10% do esforços que muitos presumem por aí.

• Você não precisa ter cripto na carteira para ter um crescimento patrimonial e sustentável;

• Não precisa ter grandes cases de valorização, como aparentou ser a Tesla após a eleição do Trump ou mesmo como a Nvidia, que explodiu em valorização de um ano pra cá.

Todas essas coisas parecem, mas não são essenciais.

Eu sou não só um profissional que trabalha atendendo investidores há quase 10 anos no mercado financeiro, mas também um entusiasta do mercado.

Muitos dos meu investimentos vêm de vontades, algumas vezes até pra fins de estudo, não apenas de necessidades.

Portanto, você não precisa e não deve me copiar.

Uma carteira essencialista pode muitas vezes ter apenas renda fixa, uma previdência privada para benefícios tributários e talvez mais uma outra classe de ativo para fins de diversificação.

É assim que estão alocadas as carteiras de vários investidores com que trabalho.

Leve isso em consideração.

Dito isso, na próxima semana eu trarei a minha experiência pessoal investindo em alguns ativos de maior volatilidade nos últimos anos.

São os casos dos investimentos em Tesla (TSLA), Bitcoin e Ethereum através do ETF HASH11 e na ação do Grupo Ambipar, AMBP3.

Então se você é mais engajado com investimentos ou simplesmente que aprender com uma experiência prática de outro investidor, fique ligado(a) na sua caixa de entrada na próxima terça-feira!

André Pauletto.